Não foi intencional, nem foram só 30 minutos, mas decididamente comecei a levantar-me mais cedo. Quando me levantava regularmente às 6h30, foi quando tive menos enxaquecas, dormi melhor e me senti mais em controle do meu dia.
Decidi começar com as 07h00, seja para me levantar para o trabalho ou só para tomar o pequeno-almoço e voltar para a cama para ler um livro (como hoje). Neste momento inicial, o objectivo é regular o sono e não o que farei com o tempo.
Para me ajudar, voltei à minha grelha da Regra Seinfield que expliquei aqui.
Mas agora com objectivos diferentes:
- Levantar às 7h00;
- Marmita para o trabalho;
- Trabalhar 30 minutos por dia nos meus projectos, seja de leitura, manualidades ou escrita (blogs não incluídos);
- Apagão digital às 21h00 (excepção para ver um dos múltiplos filmes ou séries que vou gravando, é que com este frio, prefiro ver no quarto, com o computador onde estou quentinha com o aquecedor ligado que na sala que é aberta para o corredor e como tal, muito difícil de aquecer).
Tenho umas calças para reparar. Estão na minha mesa há semanas. Quando penso em arranjá-las,olho para elas, azul marinho e olho para a máquina, linha branca. Desisto.
É ridículo, eu sei.
Esta manhã, fui buscar as linhas azul marinho e enfiei a máquina. Perfeitamente sabendo que não iria coser de imediato, mas com a plena consciência que, na próxima vez, parte do trabalho está feito.
Frequentemente, esquecemo-nos que preparar uma tarefa é parte da sua execução. Pois bem, a reparação é tão simples, apenas com preparação da máquina, 1/3 da tarefa está concluída.
Precisamente esta semana, quando me encontro numa fase menos boa, tropeço numa expressão japonesa, que significa melhoria.
Actualmente, é mais conhecida como uma filosofia de melhoria contínua, mais aplicada ao mundo industrial e profissional.
O modeloKaisen defende que o ponto de partida para uma melhoria é reconhecer a necessidade, que no fundo é reconhecer a existência de um problema.
E o que tem o destralhar a ver com isto? É que um dos pressupostos deste modelo é precisamente que, se deve eliminar o desperdício, utilizando soluções baratas e bom senso. Outro, é que se trata de um modelo de melhoria contínua, com práticas incorporadas no dia-a-dia.
O modelo Kaisen é suportado em 5 actividades (5S):
Seiton - senso de ordenação
Traduz-se na ideia que deveremos ter as coisas ordenadas para não perdermos tempo a procura-las.
No fundo, é ter uma casa para as coisas, como quando decidi que as chaves da casa passavam a ter uma casa penduradas no bengaleiro; a cesta onde coloco a máquina fotográfica + acessórios; a cesta onde coloco os leitores de mp3, auscultadores e fio de carregar o telemóvel.
Seiri - senso de utilização
Ter a consciência de que se deve ter apenas o necessário, já que manter o desnecessário tem custos e pode até ser um obstáculo nas nossas vidas.
Custos quando gastamos dinheiro para os comprar, quando os tempos de arrumar e limpar...
Seiso - limpeza
É importante ter um local limpo e por isso, para isso, ter uma rotina de limpeza.
Seiketsu - senso de saúde e higiene
Devemos sempre manter um espaço favorável à saúde e higiene. E note-se que aqui não é apenas a saúde física no sentido estrito, mas também a saúde mental.
Shitsuke - senso de autodisciplina
É preciso transformar práticas em hábitos.
Em suma, sinto que já havia escrito tudo isto, mas em japonês, soa muito melhor.
Deixei de ter calçado espalhado pela casa. Passei a ter um sítio específico para cada peça de calçado - serem poucos, torna tudo mais fácil.
O espaço livre também me permitiu ter um local para uma extensão eléctrica que uso mais regularmente.
Finalmente, fiquei com uma casa para colocar a minha carteira e/ou coisas que tenho de levar comigo quando saio para trabalhar. A carteira deixou de andar pousada pelos móveis. Os livros da biblioteca, também.
Isto veio reforçar a ideia que as minhas coisas precisam de "casas" para que não se tornem um fardo.
O efeito da dotação é uma hipótese da psicologia (com reflexos na macro economia), segundo o qual uma pessoa atribui maior valor a uma coisa, apenas porque a possui. Numa outra perspectiva, nós exigimos muito mais para nos desfazermos de uma coisa, que para a adquirir.
Essa valorização, explica muito da nossas dificuldades em destralhar ou até em doar, vender ou trocar as nossas coisas usadas.
Um dos exemplos mais famosos do efeito dotação é de um estudo no qual os participantes receberam uma caneca. De seguida, foi oferecida aos participantes a possibilidade de a trocar por um itens igualmente valioso (em preço). O que aconteceu foi que os participantes exigiam o dobro do valor, para ceder a caneca (depois de ser sua) daquele pelo qual estavam dispostos a pagar para a adquirir.
Ora, racionalmente nós sabemos que esta propensão para valorizar mais os objectos que possuímos é errada. Ainda assim, é um desequilibro que nos surge naturalmente.
Por isso, nada como usar o conhecimento, para nos esforçamos para usar a razão ao destralhar as coisas lá de casa.