Isto vai soar a coisa mais lamechas que possam imaginar: destralhar a vida de coisas inúteis pode resultar em realizar sonhos.
Eu sempre sonhei ter um carrinho tipo biblioteca. O que eu não sabia é que já tinha um (numa versão muito aceitável) na minha casa... mais propriamente na casa de banho.
À medida que o fui destralhando, ele foi ficando cada vez mais vazio. E quando mais vazio, mais o acto de o limpar (de pó) se tornava mais frustrante. E foi a lavá-lo que olhei para ele com outros olhos: os olhos de uma leitora, que percebeu logo que ele tinha profundidade para livros!
Frequentemente, quando se fala de destralhar livros, as bibliotecas são mencionadas como o destino ideial. Numa economia circular, há melhor destino que um local em que os livros podem ser partilhados por toda a comunidade?
Mas a realidade é que as bibliotecas possuem espaço limitado e não estão disponíveis para acolher livros todos e quaisquer livros.
A minha experiência pessoal
Todos os anos eu doo livros à minha biblioteca local. Infelizmente, o meu município não investe em livros e o catálogo está muito desactualizado. Como alguém que ama livros e bibliotecas, este é o meu contributo.
Começo por consultar o catálogo digital da biblioteca, para perceber se possuem os livros que desejo doar. Esse é o meu objectivo: doar livros que ainda não constem do catálogo.
Envio um email ao director da biblioteca, perguntando se têm interesse em aceitar uma doação desses livros, com a informação de que não constam do catálogo e se constam do Plano Nacional de Leitura.
Após a resposta, entrego os livros na biblioteca.
Finalmente, posso sentar-me e deliciar-me a imaginar os meus livros a serem requisitados, a serem colocados numa mesa de novidades, ou num grupo de livros destacados por causa de uma efeméride ou autor. No fundo, as coisas que gosto de encontrar na minha biblioteca.
A ideia tem-se vindo a desenvolver nos últimos tempos.
O número de livros não lidos não tem diminuído, até porque as trocas que trazem novos inquilinos e as bibliotecas municipais estão sempre a tentar-me.
O sonho de deixar uma biblioteca para as minhas sobrinhas, tem tanto de utopia altruísta como um acto egoísta. Querer ter uma biblioteca em casa com mais de 400 livros é irrealista, para uma casa como a minha (que sequer é minha).
Ainda estou incrédula que esteja a ser tão displicente com a minha biblioteca. Os livros são a melhor parte do meu dia. Mas a verdade é que não sinto necessidade de os ter em casa. Mais, sinto cada vez mais ansiedade por uma casa cheia de coisas que se torna um problema a resolver, em certas circunstâncias.
Por isso, decidi começar a vender a biblioteca pessoal (não se preocupem, não verão aqui anúncios de venda). Não tenho pressa e não é algo de absoluto.
Também pretendo doar alguns livros não lidos, que a minha biblioteca municipal não tenha. Assim, sei onde estarão quando os quiser ler.
No fundo, culpo a minha biblioteca municipal, onde tenho encontrado tudo o que desejo para ser uma leitora feliz.
Michael Simmons escreveu um texto muito interessante sobre a importância da aprendizagem para o desenvolvimento pessoal e a produtividade.
Segundo o mesmo, Elon Musk (fundador do Paypal), Oprah Winfrey, Bill Gates, Warren Buffett and Mark Zuckerberg possuem todos algo em comum: dedicam pelo menos 1 hora por dia (5 horas por semana) a um esforço deliberado de aprender ou melhorar (-se ou a sua performance em determinado domínio).
E no cerne dessas 5 horas está: ler, reflectir e experimentar.
Just as we have minimum recommended dosages of vitamins, steps per day, and aerobic exercise for leading a healthy life physically, we should be more rigorous about how we as an information society think about the minimum doses of deliberate learning for leading a healthy life economically.
Nos últimos dias, tenho reflectido sobre isso. Nos meus marcadores do Chrome tenho uma pasta chamada "30 dias", que traduz o objectivo de todos os dias praticar pelo menos 30 minutos:
1. Dactilografia
Uma boa parte do meu trabalho depende de um teclado pelo que me pareceu óbvio aproveitar um dos muitos cursos online para tornar a minha dactilografia.
Deveria praticar um pouco todos os dias, mas isso nunca aconteceu.
Gosto imenso de informática e a falta de conhecimento de programação tem sido um factor impeditivo de muitos projectos que gostaria de ver materializados.
Por isso, inscrevi-me num curso on-line de programação.
Um projecto pessoal que, segundo o Google Docs, viu a última edição em 14/10/2014.
4. PurdueX:FINANCExPersonal Finance
Um curso online de finanças pessoais que ainda não comecei. Francamente, adiei porque não estava a conseguir transformar o vídeo em audio. Agora que posso ouvir num mp3, é mais fácil.
O título é a minha tradução (livre) de um "desafio" em que tropecei na internet: #ReadMyOwnDamnBooks (aqui).
Existem inúmeras estratégias para diminuir a TBR, mas no meu caso, quanto mais leio, mais livros entram no meu radar.
A Estella começou o desafio porque tinha em casa 210 livros físicos. Eu tenho quase o dobro.
Não comprei nenhum livro em 2016 o que não quer dizer que a minha biblioteca não tenha aumentado. A minha estratégia de receber presentes, na forma de livros usados, resultou.
E talvez por isso tenho sentido que, apesar de estar a meio do ano, a minha lista de livros a ler - da estante - não diminuiu.
Assim, até ao final do ano quero limitar o meu leque de escolhas: terei de ler 3 livros da minha estante antes de requisitar outro da biblioteca. Excepções apenas para leitura de séries ou o Clube dos Clássicos Vivos (em que só participo se tiver acesso ao livro sem comprar).
Venham ao confessionário: quantos livros não lidos têm em casa?