Adiei anos uma biópsia ao múltiplios quistos mamários que assustavam técnicos e que já se viam a olho nu, no seio. Ou melhor, não adiei fazer, adiei pressionar a médica de familia para me encaminhar para uma consulta de especialidade.
Tive sorte. Fiz aspiração de líquido e anos de ansiedade e dores ficaram para trás.
Continuo e continuarei com quistos, mas agora muito vigiada.
Ainda mais absurdo.
Ignorei dois meses de perdas de sangue menstrual, sempre com a ginástica mental "há-de passar; só acontece aos outros" .
Adiei uma consulta à ginecologista, até a semana passada. Um exame (sempre difícil) não revelou nada de anormal (excepto o que já sabia - endometriose). Tive sorte.
Mas estou enfraquecida (falta de ferro), passei o fim de semana com enxaquecas debilitantes e quase desmaiei esta manhã.
Pouco a pouco, vou vendo a geração da minha avó desaparecer. É natural.
Mas doeu ver um rosto na necrologia da funerária local. Adiei tantos telefonemas.
Ontem coloquei na agenda dois nomes para telefonar. Ao rever a lista de tarefas no fim do dia, reparei do que tinha ficado por fazer. A checklist está completa.
Mas um dia tornou-se dois e uma semana passou. Depois duas e um mês e meses que correram.
E assim se passou mais de um ano.
Como muitas/os, em teletrabalho, concentrada em proteger os mais próximos, enquanto lamentava as perdas de vidas e rezava que a desgraça (tão aleatória) não me batesse à porta.
Um ano depois, não mudou muito, entre a esperança da vacinação e o desespero das novas variantes.
Mas decidi voltar ao que resultou, procurando alguma sensação de controle, nem que seja apenas nos materiais que me rodeiam.
Peço, desde já, as minhas desculpas pelo ruído, na forma de confessionário, que dificilmente acrescentará algo à vossa vida.
"... uma das formas subtis do cuidado ocorre quando usamos simplesmente a nossa presença tranquilizadora e afectuosa para ajudar e acalmar alguém. A mera presença de alguém de quem se gosta, mostram os estudos, tem uma propriedade analgésica, sossegando os centros que registam a dor. Nomeadamente, quanto mais empática for a pessoa na presença de alguém com dor, maior o efeito calmante."