Sempre que me aparece mais uma publicação de um blog a "ensinar" como destralhar o vestuário, apetece-me fugir na direcção oposto. Primeiro, recomendam que esvazie o guarda roupas e só coloque as peças que usou no último ano e outras indicações do género. Para mim, uma tarefa dessas é imensa e como tal, propensa a sucessivos adiamentos.
Decidi (como mandam as regras do destralhar) "atacar" um ponto que me estava a chatear consideravelmente: as calças.
Problema 1: calças no armário, no guarda-fatos e no cesto da roupa para passar a ferro
Problema 2: calças com dois tamanhos diferentes, sendo que um deles não me serve
Problema 3: os problemas 1 e 2 combinados fazem com que inadvertidamente pegue em calças que me ficam a nadar (nos locais mais chatos)
Assim, o plano de ataque consistiu em:
- colocar em cima da cama todas as calças que encontrei
- separá-las pelos dois tamanhos
- experimentá-las e separar por "serve"/"não serve"
- colocar todas as que não servem num saco
- separar as que servem por: "prontas a usar"/"a precisar de remendo ou alteração"
Resultado final:
- "prontas a usar" foram para o guarda-fatos,
- "a precisar de remendo" foram para um saco e serão alvo de intervenção" (coisas como um botão ou subir a baínha)
- "não servem" foram para um saco (de notar que duas ainda tinham a etiqueta de compra; ainda não irei desfazer-me delas pois tenho esperança de conseguir melhorar os meus dotes de costura e as adaptar)
Eu não sou minimalista. Eu gosto dos meus livros nas prateleiras... muitos. Aqui, sentada no sofá, gosto de olhar para eles, tê-los aqui comigo. Talvez a minha postura tenha mais a ver com o neo-frugalismo. Tenho pensado nisso, a propósito de uma conversa que tive. Este fim de semana, enquanto via a minha mãe destralhar, outra familiar a referir que iria fazê-lo, a ver objectos a passarem de umas casas para outras, do inútil para o útil, optei por não pensar mais no assunto.
Sabem o que me aconteceu frequentemente? Andar pela casa à procura do leitor de MP3 e descobri-lo sempre no lugar que escolhi para ser o seu lugar. Ou seja, antes de pensar, o hábito leva-me a todos os locais onde (antes) o deixava. Surreal.
Este fim de semana foi ocupado com outras coisas. Remendos. Não têm um canto no armário em que colocam aquela peça que está sem um botão? Que precisa de um ponto? Eu tinha 2 carteiras (forro), uma camisola interior (das que precisavam de etiqueta), ...
Por isso, decidi pegar no kit de costura e tratar destas peças. Foi o meu projecto de fim de semana.
Numa noite desta semana deitei-me às 02h00. Comecei a sentir a angústia do caos que se instalou com a actividade de "destralhar". O tampo da secretária era quase uma miragem no meio de tanto material a organizar.
Com efeito, quando escrevi o post de domingo, estava a enganar-vos e a enganar-me. Entendam, eu não menti, mas omiti. Omiti que há vários dias que não conseguia dispor de uma única revista ou livro. Isso porque nem peguei neles. Tentei a manobra da distracção, com o projecto da minha banheira.
Na leitura no livro winning the clutter war tive um momento de revelação: não basta as coisas terem o seu lugar próprio, têm também de estar agrupadas sob pena de nunca sabermos onde estão. Olho para trás e tenho 3 estantes, em todas tenho livros técnicos, em todas tenho material diversos (economato e artes manuais diversas). Numa fúria comecei a agrupar os diversos grupos de itens pelas estantes.
A mente volta atrás e recorda-se que isto começou porque precisava de ter no mesmo local tudo para escrita postal: envelopes, selos, postais, cola... para não andar sempre à procura de tudo, no meio de todo o resto.
A sala ficou com um aspecto mais habitável e eu consegui perceber de imediato o que precisava ser feito. Ainda não destralhei mais nenhuma revista.
Por isso, dou dois passos atrás. Este erro já o conheço: não posso querer destralhar todo o escritório, mas uma estante de cada vez, uma prateleira de cada vez. Isto porque, destralhar é muito diverso de organizar.
Quando decidi "destralhar" a casa, sabia que duas coisas iriam acontecer:
- antes de melhorar, ia piorar;
- ia sobrar material.
Com efeito, ambas concretizaram-se. O escritório está um caos. Já começo a ter amontoados de capas, caixas e gavetas vazias. Tudo terá de ser separado, reavaliado e reutilizado. No fundo, a fase seguinte: organizar.
E na verdade, ainda nem posso dizer que comecei a parte mais complicada: os livros.
Entretanto, ando como a Troca Tintas, distraio-me com outros projectos, nomeadamente um que estava na minha lista de coisas a fazer, há cerca de 1 ano. E o surreal é que já havia comprado o material. Em 15 minutos ficou colocado. Um ano para resolver algo em 15 minutos.