Telemóveis nas escolas - um debate que tem de acontecer
Uma das notícias da semana é que a França irá implementar uma proibição de telemóveis nas escolas, em ambiente de aula e recreio, já a partir do próximo ano lectivo.
Antes de mais, a questão da legitimidade. É legítimo ao Estado interferir a este nível, na vida das pessoas? A minha resposta é sim, já que estamos a falar do espaço escola em que são permitidas regras de conduta pertinentes para o bom ambiente escolar.
Porém, acredito que muitas pessoas concordarão com a proibição dentro das aulas, mas não no recreio, especialmente pais que querem manter uma linha de comunicação com os/as seus/suas filhos/as.
UTILIZAÇÃO DE TELEMÓVEIS NA ESCOLA
Prós
- Em caso de emergência (ou até mal-estar/doença), as crianças podem contactar os pais directamente. Tendo em conta que as escolas públicas têm cortado os recursos escolares, no que respeita a funcionários presentes no recreio, esse argumento não é desprezível.
- Muitos pais utilizam o telemóvel para contactar as crianças directamente, para combinar deslocações à escola ou avisar quanto a atrasos (porque houve falta de professor e sai mais cedo, porque perdeu o autocarro e chega mais tarde).
- Os smartphones potenciam a info-inclusão, nomeadamente quanto a ferramentas (por exemplo, a possibilidade de substituir uma máquina calculadora científica, em regra com pouco uso face ao seu custo), conteúdos e até acesso (há quem só tenha acesso à internet em locais públicos).
- A atractividade da tecnologia pode ser utilizada como uma forma de motivar estudantes. Num mundo crescentemente tecnológico, não se pode ignorar o valor educacional dos telemóveis.
Contra
- É impossível de contestar que o telemóvel em ambiente de aula é uma distracção para os alunos, que os utilizam para as redes sociais e jogos.
- Segurança - O cérebro dos adolescentes funciona diferentemente do dos adultos, no que respeita à gestão dos riscos. A idade potencia o risco, até como forma de aprendizagem e os riscos que um telemóvel potencia (sexting, marcação de encontros, anonimato, bullying) são agravados.
- Já existem estudos que apontam para comportamentos aditivos que são propiciados pela tecnologia.
- Nem todas as famílias têm capacidade financeira para dar um telemóvel com valor educacional aos filhos. Os professores não podem utilizar ferramentas escolares a que parte da população estudantil não consegue ter acesso.
- A massificação de câmaras com capacidades de partilha, tem levado à utilização ilícita a diversos níveis: crianças/jovens que são fotografadas/os e/ou filmadas/os sem a sua autorização, crianças/jovens que têm a sua imagem partilhada em páginas públicas sem o consentimento dos seus pais; utilização de imagens ilícitas para chantagear crianças/jovens a adoptar comportamentos de risco....
- Estudos começam a emergir com indícios de que a utilização das novas tecnologias afectam negativamente o desenvolvimento psicológico/emocional das crianças/jovens: os relacionamentos à distância não têm o mesmo impacto (há coisas que não diriam cara-a-cara; não é possível ler emoções num ecrã, como acontece num rosto; o ecrã cria uma falsa sensação de segurança; os riscos do anonimato). Li sobre um estudo interessantíssimo sobre como os adolescentes tinham pior hálito, e que isso se devia simplesmente ao afastamento social criado pelos telemóveis - como está tudo a olhar para um ecrã, não há a partilha de verdades brutais como: chega para lá, que tens mau hálito.